quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Irmão Sol

                                           No céu Francisco fulgura, 
                                            cheio de glória e de luz, 
                                     trazendo em seu corpo as chagas, 
                                          sinais de Cristo e da Cruz. 

                                        Seguindo o Cristo na terra, 
                                           pobre de Cristo se faz, 
                                        na cruz com Cristo pregado, 
                                          torna-se arauto da paz. 

                                           Pelo martírio ansiando, 
                                         tomou a cruz do Senhor: 
                                          do que beijou no leproso 
                                       contempla agora o esplendor. 

                                       Despindo as vestes na praça, 
                                        seu pai na terra esqueceu; 
                                         reza melhor o Pai-nosso, 
                                           junta tesouros no céu. 

                                         Tendo de Cristo a pureza, 
                                        mais do que o sol reluzia, 
                                         e, como o sol à irmã lua, 
                                       Clara em seu rastro atraía. 

                                        Ao Pai e ao Espírito glória 
                                         e ao que nasceu em Belém. 
                                       Deus trino a todos conceda 
                                        os dons da cruz: Paz e Bem

São Francisco de Assis, o autor do Cântico do Irmão Sol, um dos santos mais amados pelo mundo inteiro, foi canonizado dois anos após a morte. Em 1939, Pio XII tributou um ulterior reconehcimento oficial ao "mais italiano dos santos e mais santo dos italianos", proclamando-o padroeiro principal da Itália.


Ele nos deixou diversos ensinamentos, tanto por seu testemunho de vida, quanto por suas belas e ricas palavras, como podemos ler nos textos abaixo:
Da Carta a todos os fiéis, de São Francisco de Assis

(Opuscula, edit. Quaracchi 1949,87-94)    

 Devemos ser simples, humildes e puros

O Pai Altíssimo anunciou a vinda do céu do tão digno, tão santo e glorioso Verbo do Pai, através de seu santo, Gabriel, à santa e gloriosa Virgem Maria, em cujo seio recebeu a verdadeira carne de nossa humanidade e fragilidade. Ele quis, no entanto, sendo incomparavelmente mais rico, escolher a pobreza junto com a sua santíssima mãe. Nas vésperas de sua paixão, celebrou a Páscoa com os discípulos. Depois, orou ao Pai dizendo: Pai, se for possível, afaste-se de mim este cálice (Mt 26,39).
 Pôs, contudo, sua vontade na vontade do Pai. E a vontade do Pai era que seu Filho bendito e glorioso, dado a nós e nascido para nós, se oferecesse em sacrifício e vítima no altar da cruz, pelo seu próprio sangue. Sacrifício não para si, por quem tudo foi feito, mas por nossos pecados, deixando-nos o exemplo para lhe seguirmos as pegadas (cf. 1Pd 2,21). E quer que todos nos salvemos por ele e o acolhamos com coração puro e corpo casto.
Ó como são felizes e benditos aqueles que amam o Senhor e fazem o que o mesmo Senhor diz no evangelho: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e ao próximo como a ti mesmo! (Lc 10,27). Amemos, portanto, a Deus e adoremo-lo com coração puro e mente pura porque, acima de tudo, disto está ele à procura e diz: Os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade (Jo 4,23). É necessário que todos que o rito e em verdade (Jo 4,23). É necessário que todos que o adoram, o adorem no espírito da verdade. E dia e noite elevemos para ele louvores e orações, dizendo: Pai nosso que estás nos céus (Mt 6,9); porque é preciso orar sempre e não desfalecer (cf. Lc 18,1).
Além disto, produzamos dignos frutos de penitência (cf. Mt 3,8). E amemos os próximos como a nós mesmos. Tenhamos caridade e humildade e façamos esmolas, já que estas lavam as almas das nódoas dos pecados. Os homens perdem tudo o que deixam neste mundo. Levam consigo somente a paga da caridade e as esmolas que fizeram: delas receberão do Senhor o prêmio e a justa recompensa.
Não nos convém sermos sábios e prudentes segundo a carne, mas temos antes de ser simples, humildes e puros. Jamais desejemos ficar acima dos outros, mas prefiramos ser servos e submissos a toda criatura humana, por causa de Deus. Sobre todos os que assim agirem e perseverarem até o fim repousará o Espírito do Senhor e fará neles sua casa e mansão. Serão filhos do Pai celeste, pois fazem suas obras, e são esposos, irmãos e mães de nosso Senhor Jesus Cristo.

Da Regra não bulada, de São Francisco de Assis

Do modo de servir e de trabalhar
Os irmãos que forem capazes de trabalhar, trabalhem; e exerçam a profissão que aprenderam, enquanto não prejudicar o bem de sua alma e eles puderem exercê-la honestamente. Porquanto diz o profeta: Viverás do trabalho de tuas mãos: serás feliz e terás bem-estar (Sl 127,2); e o Apóstolo: Quem não quer trabalhar não como (2Ts 3,10). Cada qual permaneça naquele ofício e cargo para o qual foi chamado (1Cor 7,24). E como retribuição pelo trabalho podem aceitar todas as coisas de que precisam, exceto dinheiro. E, se for necessário ter as ferramentas necessárias ao seu ofício.
 Todos os irmãos se esforcem seriamente em praticar boas obras, pois está escrito: "Vê se estás sempre empenhado em praticar alguma boa obra, para que o diabo te encontre ocupado"; e ainda: "A ociosidade é inimiga da alma". Por isso os servos de Deus devem estar sempre entregues à oração ou a qualquer outra boa obra.
Cuidem os irmãos, onde quer que estejam, nos eremitérios ou em outros lugares, de não apropriar-se de qualquer lugar nem disputá-lo a outrem. E todo aquele que deles se acercar, seja amigo ou adversário, ladrão ou bandido, recebam-no com bondade. E onde quer que estejam os irmãos, e sempre que se encontrarem em algum lugar, devem respeitar-se e honrar-se espiritualmente e diligentemente uns aos outros, sem murmuração (1Pd 4,9). E guardem-se os irmãos de se mostrarem em seu exterior como tristes e sombrios hipócritas. Mas antes comportem-se como gente qu8e se alegra no Senhor, satisfeitos e amáveis, como convém.
(Escritos e Biografias de São Francisco de Assis, Ed. Vozes-CEFEPAL, Petrópolis 1982, p. 146-147)    
 
 Trecho retirado do livro: No Coração da Igreja, de Prof. Felipe Aquino


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