“A quem iremos? A Peregrinação e a experiência da fé”
Por Padre Carlos Cabecinhas (reitor do Santuário de Fátima)
“A peregrinação é uma experiência religiosa universal”, não sendo um exclusivo do cristianismo, já que “todas as grandes religiões conhecem a prática da peregrinação”. A diferença cristã está em que “ao contrário do que acontece, por exemplo, no Islamismo ou no Judaísmo, no cristianismo a peregrinação não é um dever, é sempre ato livre, que brota da vontade do próprio crente”.
Num percurso pela história da espiritualidade e pelos elementos constitutivos do ato peregrinante, sendo eles “o peregrino, o caminho e o lugar santo ou santuário, meta da peregrinação”, o padre Carlos Cabecinhas concluiu que “a peregrinação pode definir-se como viagem por motivo religioso em que é a motivação que a distingue de outro tipo de viagem”
Que motivações levam alguém a peregrinar?
Para o Reitor podem ser diversas: “Uma motivação é pedir uma graça específica: uma cura, uma iluminação, um novo impulso espiritual. Outra é a gratidão: vai-se em peregrinação agradecer uma graça recebida. Há peregrinos que se lançam ao caminho com sentido penitencial, para expiar os próprios pecados mas, sobretudo, para poder recomeçar. Porém, uma das razões principais que leva o peregrino a partir em peregrinação, e que é transversal às outras motivações apresentadas, é o desejo de encontrar Deus de forma mais direta do que na vida ordinária e a convicção de que isso é mais fácil na caminhada e em certos lugares específicos”.
Outra abordagem realizada pelo conferencista aconteceu por meio de um percurso pelos principais textos bíblicos com narrações ou descrições relacionadas com experiências de peregrinação nas Escrituras.
“O caminho para Deus não é um conjunto de normas ou de leis: o caminho é uma pessoa, Jesus Cristo, porque é o único mediador entre Deus e o homem e constitui o único acesso a Deus”, concluiu o Reitor.
Quanto às dimensões mais importantes para uma espiritualidade da peregrinação, o Reitor do Santuário de Fátima destaca seis: a dimensão escatológica, a penitencial, a festiva, a cultual, a apostólica e a de comunhão.
“Na peregrinação a Fátima, a dimensão penitencial é particularmente importante. Na homilia do dia 13 de maio de 1982, o Papa João Paulo II afirmava: ‘A mensagem de Fátima, no seu núcleo fundamental, é o chamamento à conversão e à penitência […] O chamamento à penitência, como sempre, anda unido ao chamamento à oração’”, disse.
Quanto às quatro etapas da peregrinação, “são um paradigma da vida de fé: a partida, a caminhada, a permanência no Santuário, meta da peregrinação, e o regresso”.
“O momento do regresso não é simplesmente uma despedida do santuário, a assinalar o fim da peregrinação: é sobretudo um envio, uma missão”.
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