Retomando a nossa reflexão sobre a Passio Domini....
Á entrada do Horto deixei os Meus Discípulos. Apenas tomei comigo Pedro, Tiago e João, aqueles três íntimos que costumavam estar mais perto de Mim, em situações em que o Meu Amor se manifestava de forma especial.
Mesmo estes três, deixo-os a pequena distância.
Vinde vós comigo, tu que estás agora aqui, tu que lês estas palavras. Oh! Não penses que este Horto, para onde Me dirijo, é lugar só para alguns, para privilegiados!
Aqui, junto de Mim é lugar para todos os que aqui quiserem vir reparar e interceder por aqueles que são a causa desta Minha Agonia de morte.
A maior parte dos Meus filhos não entende o Meu Horto de dor; lêem esta passagem bíblica, mas não se fixam nela, pois ela está velada como velado está o Meu rosto pelas lágrimas, pela tristeza e pela dor... E, ainda, em breve, pelo Suor de Sangue.
Meus filhos, vós não entendeis a necessidade que tendes, que o mundo tem, desta oração reparadora, na noite dolorosa de quinta-feira.
Vós não entendeis, porque não entendeis o Meu coração, porque não vos fixais no Meu rosto, porque Minha dor é para vós pequena coisa.
Apenas vedes as vossas dores, os vossos aborrecimentos, os vossos trabalhos. Estais fixos em vós mesmos e apenas sabeis pedir, pedir e pedir.
Dirijo-Me agora a vós. Sou Eu agora a pedir, a pedir o vosso tempo, a vossa disponibilidade, a vossa oração, tudo aquilo que tendes e que guardais tão ciosamente.
Que guardais nos vossos corações Meus filhos?
Guardais o vosso tempo. Esse tempo vos peço. Peço-vos que venhais comigo sem contar o tempo, que Me deis esse tempo, que disponhais dele para estar comigo, para Me acompanhardes nestas horas dolorosas.
Todo o tempo é Meu, sou Eu que vo-lo dou, enquanto vos mantenho vivos. Esse tempo que vos dou, tendes a obrigação delicada de Me devolver, nas horas que sabeis Me serem gratas.
O vosso tempo vos peço neste dia. Estas horas que reservais para vosso contentamento, quereis dá-las, ficando junto a Mim, para Meu contentamento?
Vinde então comigo, acompanhai-Me e penetrai neste Horto, que apenas é iluminado pela luz do luar. Tudo aqui é escuridão, e o luar põe manchas pálidas nas rochas, nas árvores e no Meu ros.
Quereis ficar aqui Comigo?
Não será um tempo fácil, mas Eu nunca prometi facilidade para ninguém. Vejo que hesitais. Que tendes no vosso coração? Tendes as vossas preocupações, os vossos desgostos, os vossos trabalhos.
Nenhum outro lugar melhor podereis encontrar para esconder as vossas dores e os vossos trabalhos, que o Meu Horto de dor.
É aqui o lugar onde se sofre, onde se aceita e se oferece. É aqui também o lugar onde poderei aprender, melhor que em nenhum outro, a maneira de sofrer. Olhando para mim, vereis como se sofre com Amor. Vereis como os vossos sofrimentos são pequenos em comparação com os Meus. Será no Meu Sofrimento que escondereis os vossos sofrimentos pessoais.
Que mais tendes no vosso coração, filhinhos?
Tendes os vossos amigos, os vossos familiares, as alegrias ou tristezas dessas amizades. Também Eu tinha amigos. E agora pergunto: onde estão? Sois vós do grupo dos Meus amigos? Se sois, então o vosso lugar é junto deste vosso Amigo.
Sim, Eu tinha amigos, mas agora estou sem eles. Os poucos que trouxe para perto adormeceram, e vós hesitais em ficar.
Bem sei aqui não é divertido. Eu também não estou a divertir-Me. Não vim aqui para divertir-Me, mas para sofrer.
Quereis sofrer comigo a falta de companhia, os desenganos de amigos, os abandonos, a solidão?
Sou o vosso Companheiro. Também Eu estou só, também Eu sofri traições e abandonos, também a Mim os amigos desenganaram, tu próprio Me desenganaste e desenganas todos os dias com o que fazes, com o que dizia, com o que pensas e com o que omites, depois de tudo o que Me prometes na oração... quando a fazes.
Trocaram-te por outras pessoas? Também a Mim o fizeram. Também tu a Mim o fazes com freqüência.
Preferias estar noutro lado, com amizades que te distraem, que dizem coisas agradáveis, talvez em formas de oração mais alegre? Também Eu quando fui para o Horto, teria preferido ir para outro lugar, onde encontraria amigos, talvez a casa de Lázaro, ou ir rezar para aqueles lugares onde a oração tinha sido o doce bálsamo das Minhas canseiras apostólicas.
Mas não devia ser assim nesta noite. Esta noite a orações é feita no Horto. É a noite da oração dolorosa e Eu não fugi dela. Se sois Meus amigos, acompanha-Me-eis e também não haveis de fugir.
Que mais trazeis no coração? Acaso pecados? Aqui é o lugar bom para Me pedirdes perdão por eles, porque neste lugar nada recuso de Misericórdia a quem Me pede, a quem Me acompanha.
Aqui no Horto a Minha Misericórdia corre em rio caudaloso e cobre todos os filhos que se querem aproximar.
Aqui a santidade é para vós e o pecado é para Mim, porque Eu assumo o vosso pecado.
Não é fácil para Mim assumir os teus pecados do mundo, em todas as épocas. Por isso te peço companhia. Por isso te peço companhia a todos vós, nestas horas dolorosas.
Não penses vir aqui para gozar consolações, porque o Horto não é lugar de consolação. Não o foi para Mim e não o será para vós.
O Horto é um lugar de solidão, de Amor e de sofrimento. Ainda que o sangue rebentasse pelos capilares do seu corpo, como aconteceu comigo, não deverias recitar-te a vir.
Vem, mesmo que te sintas só, mesmo que não saibas o que fazer pra consolar a Minha tristeza, mesmo que tenhas sono, mesmo que sofras ou chores.
Fica comigo aqui, e aprenderás comigo como é que se sofre. Fica comigo e aprenderás a amar, porque encerra uma larga escala de aprendizagem do sofrimento, primeiro do Meu Sofrimento e depois do teu, que mergulhado no Meu, adquirirá outro valor, outra projeção e outra forma de se manifestar em amor.
Amar é fácil. Só sabe amar bem quem sabe sofrer bem, e só sabe sofrer bem, quem aprende comigo a sofrer.
Fica comigo, para que a tua carne fraca seja fortalecida pelo Meu contato, e não venhas cair em tentações.
Fica comigo, vem aprender a estar comigo, vem aprender a amar.
Fonte: Livro Faz-me Companhia, Maria Stella Salvador. Ed. Paulus.
Foto: Horto das Oliveiras-Israel.