quinta-feira, 29 de março de 2012

No Horto

Continuando nossas reflexões sobre a Passio Domini:

Nesta noite de quinta-feira, é no Horto que marco encontro convosco e contigo também. Esta é uma noite que podereis tornar de muito amor, se estiverdes dispostos a abdicar das vossas comodidades, para ficar comigo.
Quantas vezes, estas mesmas comodidades estão para vós em primeiro lugar! Pergunto-vos como podeis ficar sossegados em casa, ir tranquilamente para distrações, nesta noite, justamente nesta noite em que preciso de vós, da vossa companhia, da vossa oração, porque é a noite em que muito mal se faz pelo mundo.
As noites dessa quinta-feira, sexta-feira e sábado são as noites da prática de maiores pecados, mas a de quinta-feira é a que recorda a minha noite de Amor e, por isso, é a noite escolhida pelo meu inimigo, para mais Me ultrajar.
Que sabeis disso? Nada, vós nada sabeis, porque, para saberdes alguma coisa, era preciso terdes tomado parte nessas cerimônias de sacrilégio.
Não sabeis e não queiras saber senão que nas noites de quinta-feira o mal está mais ativo e procura ultrajar-me diretamente, ainda mais que nos outros dias e nas outras noites.
À quinta-feira, enquanto dormes, sou cruelmente ofendido em cerimônias feitas expressamente com esse fim e com o fim de procurar elevar o próprio mal e cultuá-lo.
É por isso que vos peço que, nesta noite, entreis comigo no Horto e Me façais companhia, que procureis com o vosso amor reparar os ultrajes efetuados em lugares que talvez sejam perto do lugar onde estais.
Não vos admireis que vos peça companhia no Horto e, como tal, vos faça recuar no tempo, Meus filhos, Eu sou o Senhor do tempo. Para Mim não há tempo. O tempo só existe para vós.

É verdade que ressuscitei e estou no Céu, mas isso não quer dizer que vivais em contínua alegria enquanto o pecado se expande, enquanto as forças do mal estão ativas, muito mais ativas do que aqueles que dizem amar-Me.
Se ressuscitei é porque morri. E morri no meio de dores que não podeis sequer imaginar. Não teria ressuscitado se não tivesse morrido, e então não teríeis agora uma Ressurreição para vos alegrar.
Passei pela morte, mas antes passei pelo Horto, onde vi tudo o que iria sofrer e a forma como, através dos séculos seria correspondido. Por isso é no Horto que espero a vossa companhia e a vossa reparação.

O Horto é um lugar onde não disse muitas coisas, porque não tinha companhia a quem dizer, porque o sofrimento Me fazia repetir sempre as mesmas palavras, e porque aqui é um lugar de oração intensa, e a oração quanto mais intensa, mais silenciosa se torna.
Não vos iludais, meus filhos, com orações muito bonitas, e não penseis que não sabeis rezar, porque não sois capazes de ter belas palavras para os vossos irmãos ouvirem. Reparai! A oração é para mim e não para os vossos irmãos, e Eu não preciso de ouvir os vossos corações.
Embora vos seja útil a oração em voz alta, para unir mais os irmãos entre si e para levantar o ânimo e orientar a oração de alguns, tudo isso tem seu tempo próprio.
Quando vos chamo ao Horto, para junto de Mim, quero apenas o vosso coração, sem dispersões exteriores. Não importa a ninguém se sabeis rezar bem ou não. Importa que estejais comigo, que o vosso coração fale comigo, que Me olheis só a Mim.
Nesses momentos também estou convosco, e o Meu Coração comunica-se ao vosso coração sem palavras.
Por vezes sentireis fervor nessas horas. Aproveitai então o calor sensível que vos dou. Outras vezes, sentireis aborrecimento, secura espiritual e custar-vos-á muito estar ali comigo.
Será então que estareis comigo mais plenamente, porque o Horto não foi para Mim lugar de prazer, mas de tristeza e de fastio espiritual, a ponto de pedir que passasse de Mim aquele cálice.

Quando tal acontecer, dizei as Minhas palavras as vezes que quiserdes, e permanecei ali comigo, embora vos pareça que não estais a fazer nada de útil. Pelo contrário, estas horas comigo são úteis.
São horas de companhia, que não deixarei de vos agradecer. Esse agradecimento traduzir-se-á em graças de grande utilidade para vós e para os vossos irmãos que delas necessitam.
Meus filhos, acreditai que, nessas horas de silêncio comigo, fareis mais pelo mundo do que faríeis se vos ocupásseis em pregações. Os vossos frutos serão mais copiosos do que seriam se vos ocupásseis em trabalhos importantes para a Igreja, ou em penitências a vosso gosto.
Se em alguma destas noites estiverdes muito cansado, tão cansado que não vos apeteça vir ter comigo ao Horto, vede, meus filhos, Eu não vos forço, apenas vos digo que, se quereis ir descansar com os Meus discípulos, que adormeceram porque estavam cansados e tinham muito sono, também olharei para vós com tristeza e perguntarei ao vosso coração: “Não pudestes vigiar comigo ao menos uma hora?”

Só não sentireis esta Minha pergunta, se o vosso coração estiver completamente dissipado e longe de Mim.
Prestai atenção ao que então disse sobre a oração. Sim, é para vós muito importante vigiar e orar, não só quando vos sentis com disposição, mas principalmente quando estais sem disposição, porque então estais em maior perigo de sucumbir às tentações, como aconteceu com os Meus discípulos.

Embora o descanso vos seja necessário, não é ele exatamente que vos faz fortes.
O que vos faz fortes é a oração, é a proximidade que possais ter comigo.
Se não vos entregardes ao vosso cansaço, mas vos entregardes a Mim, Eu serei o vosso repouso.
Não tenhais receio, que Eu não vos deixarei cair em cansaço, não tenhais receio, que não morrereis por estar junto de Mim, mas se morrêsseis, ficaríeis comigo.
Não tenhais receio de, por estar comigo, não ter força para o vosso trabalho, por terdes menos horas de sono porque Eu não sou ingrato para os que me amam e se sacrificam por Mim.
Não tenhais também receio de atrasar aquele trabalho que queríeis fazer neste serão, porque o trabalho que fazei no Horto, junto de Mim, é mais importante que qualquer outro trabalho.
Os vossos trabalhos podereis fazê-los noutras horas com a bênção que levais daqui, e que vos fará mais diligentes no que tendes para fazer.

Meus filhos, este Meu convite é uma honra para vós, como a honra que tiveram os Meus Discípulos, com as quais vós tanto gostaríeis de ter andado.
Convido-vos, como os convidei a eles. Vede se correspondeis melhor do que eles corresponderam.
Eles poderiam ter compartilhado muito comigo nessas horas em que adormeceram. Foi por terem adormecido que pouco puderam dizer a respeito das horas que passei no Horto.

Essa companhia será agora vossa. Essa partilha ficou reservada para vós.

Fonte: Livro Faz-me Companhia.Maria Stella Salvador. Ed.Paulus.

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