De onde eles vêm?
Esta pergunta, além do aspecto geográfico, que também detalharemos, tem outras duas perspectivas: quem os nomeou e qual é o seu tipo de presbiterado (ou seja, se eles são diocesanos ou religiosos).
Os cardeais criados pelo beato João Paulo II são 49; os que receberam o título das mãos do papa emérito Bento XVI são 67.
Qual é a influência desta casuística na tendência ao voto? Pode haver algum tipo de influxo relacionado com a antiguidade no colégio cardinalício, que torna alguns cardeais mais conhecidos do que outros; é natural que dos cardeais mais recentes se saiba menos, com destaque para algum fato ou posição na cúria que lhes tenha dado mais exposição pública.
Não é casual, portanto, o que o cardeal arcebispo de Nova Iorque, Timothy Dolan, tenha declarado a um jornal italiano que aproveitará os dias de conversas em Roma para conhecer melhor os seus irmãos, “alguns dos quais só conheço pelos livros que escreveram”.
Cada cardeal é filho de uma história pessoal, marcada principalmente pelo tipo de vida que abraçou desde jovem. Dito em outras palavras, alguns têm origem no clero secular, ou seja, são diocesanos, enquanto outros se formaram sob a tutela de uma família religiosa que deixou neles traços característicos.
Um religioso recebe a formação própria do carisma da sua ordem ou congregação, com uma visão universal. Pode ser que ele tenha sentido um chamado particular a um estilo de vida mais focado na docência, como educador; pode ser, ainda, que o seu impulso vocacional tenha se voltado às missões ou à juventude, e até mesmo ao maior crescimento intelectual, para mencionar apenas alguns exemplos.
No caso dos diocesanos, eles em geral desenvolveram sua formação e posterior ministério na vida paroquial, impregnados de uma espiritualidade diocesana e em estreita colaboração com seus bispos. Salvo experiências pontuais de missão ou de estudos, eles não costumam ser enviados para fora da sua diocese e menos ainda do seu país.
As estatísticas do próximo conclave, neste aspecto, nos apresentam 97 cardeais cuja origem é o clero diocesano, enquanto 18 provêm da vida religiosa.
Sobre estes, um é jesuíta, três são franciscanos menores e um é franciscano capuchinho. Participam também quatro salesianos, dois dominicanos, um redentorista, um lazariano e um sulpiciano. Há também um cardeal de cada uma das seguintes famílias religiosas: Schoenstatt, escalabrinianos, Oblatos de Maria Imaculada e Ordem Maronita da Santíssima Virgem Maria.
Também é cardeal eleitor um membro da prelatura pessoal do Opus Dei, que parece ter sido incluído nas estatísticas oficiais como parte dos provenientes do clero secular.
vimos que o papa emérito Bento XVI criou 90 cardeais em cinco consistórios, dos quais 84 ainda vivem. Dentre estes, 67 purpurados têm direito ao voto.
O beato João Paulo II tinha convocado nove consistórios entre os anos de 1983 e 2003, para conceder a dignidade cardinalícia a 231 prelados, entre eles um não-bispo, o presbítero e teólogo suíço Hans Urs von Balthasar, que, porém, não pôde receber a nomeação porque faleceu dois dias antes do consistório. Do grupo do papa Wojtyla, ainda vivem 123 cardeais, mas só 48 poderão votar.
Dos criados pelo papa Paulo VI, dois ainda vivem, mas não são eleitores. Trata-se do brasileiro dom Paulo Evaristo Arns, OFM, e do norte-americano dom William W. Baum.
In pectore
O papa polonês também criou quatro cardeais in pectore, ou seja, “em segredo”. Um deles foi o cardeal chinês Ignatius Gong Pin-mei, bispo de Xangai, falecido em março de 2000. Sua dignidade foi conhecida apenas no consistório de 1991, apesar de ter sido criado cardeal em 1979.
O papa Wojtyla também criou como cardeal in pectore o arcebispo polonês nacionalizado ucraniano dom Marian Jaworski, bispo emérito de Leópolis da Ucrânia. O prelado teve um braço amputado por uma bomba detonada perto de seu carro nos anos sessenta, durante o regime soviético. Nomeado cardeal em 1998, só foi revelado como tal no consistório de 2001, com o título presbiteral de São Sisto.
De igual modo, foi mantida in pectore a criação do cardeal Janis Pujats, arcebispo emérito de Riga, na Letônia, e ex-presidente da conferência episcopal do país. Por ser uma vítima sobrevivente do regime soviético, na época em que o país ainda fazia parte da URSS, sua nomeação não foi divulgada até o consistório de 2001.
Durante o último consistório de 2003, João Paulo II criou mais um cardeal in pectore, cujo nome ele não quis publicar antes de morrer. Existe, assim, um cardeal que ainda não pode ser oficializado, cujo nome, em todo o seu pontificado, Bento XVI tampouco revelou.
Os octogenários
Os cardeais que já têm oitenta anos completos não podem participar do conclave como eleitores. Entretanto, com o direito que cabe a todo batizado homem, qualquer um deles poderia ser eleito como o sucessor de Pedro, razão pela qual todos devem acompanhar o evento com atenção…
Os cardeais maiores de oitenta anos que se sentirem aptos podem responder ao pedido da constituição apostólica Universi Dominici Grecis, sobre a sé vacante, que lhes recomenda, em seu número 85, unir-se aos fiéis em oração, seja nas basílicas patriarcais de Roma, seja em cada Igreja particular.
Nesta panorâmica, uma vez terminadas as congregações gerais que estão acontecendo nestes dias e nas quais alguns octogenários estão participando com ideias e reflexões, boa parte deles poderá ficar na Urbe para rezar e esperar o anúncio do novo papa.
Os cardeais da Ásia, da África e da Oceania
Depois de encerradas as congregações preparatórias, que, entre outras tarefas, elegem os cardeais que desempenharão funções específicas durante o conclave, além de estabelecer a sua data de início, o número de cardeais habilitados para votar se prepara para a “clausura”, tanto na Casa Santa Marta, onde eles ficam hospedados dentro dos muros vaticanos, quanto na Capela Sistina, onde terão que se reunir até ser eleito o novo papa.
Os eleitores da Ásia são dez, sendo a metade da Índia. Os outros cinco são um de cada país seguinte: Filipinas, China, Líbano, Vietnã e Sri Lanka.
Da África, participarão 11, sendo 2 da Nigéria e 1 de cada país seguinte: Gana, Tanzânia, África do Sul, Sudão, Senegal, Quênia, Egito, Guiné e República Democrática do Congo.
Da Oceania participa um único cardeal, vindo da Austrália.
Os cardeais da Europa e da América
95 cardeais se distribuem entre a Europa (60), a América do Norte excetuado o México (14) e a América Latina (19).
No grupo europeu, a maior quantidade é de italianos: 28. A seguir, vêm os 6 alemães, os 5 espanhóis, os 4 franceses, os 4 poloneses e os 2 portugueses. Finalmente, 1 por cada país seguinte: Irlanda, Hungria, Suíça, República Tcheca, Bélgica, Países Baixos, Áustria, Bósnia-Herzegovina, Lituânia, Croácia e Eslovênia.
Da América do Norte, vêm 11 dos Estados Unidos e 3 do Canadá.
Tomarão assento na Capela Sistina também os 5 cardeais eleitores do Brasil, os 3 do México e os 2 da Argentina. Colômbia, Chile, Peru, Venezuela, Honduras, República Dominicana, Cuba, Bolívia e Equador têm 1 cardeal cada.
No próximo e último artigo desta série, explicaremos a composição do conclave de acordo com o lugar onde os cardeais desenvolvem o seu ministério pastoral. Faremos ainda uma rápida análise dos grupos etários, para comparar as possibilidades que alguns deles têm de comandar durante um longo período a barca de Pedro.
Ficamos, por agora, com a frase publicada pelo jornal italiano Avvenire, citando o prefeito emérito da Sagrada Congregação para as Causas dos Santos, o cardeal português José Saraiva Martins: “A Igreja não tem cores, não é branca, nem negra, nem amarela. Nem africana, nem europeia, nem asiática. O papa pode ser de qualquer cor”.
Fonte: Zenit.com
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