quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Comunhão, mesmo nas crises

Por Dom Fernando Arêas Rifan
(Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney)

Ninguém de correta visão pode negar a existência da atual crise na Igreja, afirmada por vários Papas.  Crises, porém, sempre houve e haverá na Igreja, com a permissão de Deus.  E isso desde o princípio do cristinianismo.  São Paulo já fazia referência a essas crises na interior da Igreja de Corinto, inclusive na Liturgia (cf.cismas e contendas: 1 Cor 1,10-12; abusos liturgicos:1 Cor 11, 17-30).
As heresias e os cismas surgiram desde os primeiros séculos.  O arianismo, heresia que negava a divindade de Jesus Cristo, espalhou-se a tal ponto que São Jerônimo chega a dizer, hiperbolicamente, que "o mundo todo se viu ariano".
No período da Renascença, houve uma terrível crise moral, com a penetração do mundanismo em quase todos os setores da Igreja.  Escandalizado com essa crise, Martinho Lutero se separou da Igreja, levando consigo para o cisma e a heresia grande parte da Europa.  Estamos no século XVI, o tempo da chamada "reforma", com os reformadores chamados Lutero, Calvino, Zwinglio, etc.
Deus, porém, pela hierarquia da sua Igreja no Concílio de Trento e através de santos, que não se arvoravam em reformadores como Lutero, fez a verdadeira reforma.  João Paulo II dizia que a Igreja não precisa de reformadores, mas de santos.  Por isso, o século XVI, o século do protestantismo, foi também o século de grandes santos como Santo Inácio de Loyola, com a maravilhosa obra missionária da Companhia de Jesus, São Francisco Xavier, São João da Cruz, Santa Teresa de Jesus, São Pedro de Alcântara, São José de Calazans e muitos outros.
Assim, a mesma crise, os mesmos escândalos e erros provocam em uns o cisma e a heresia e em outros a santidade.  Estes, apesar das decadências humanas, não perderam a fé na Igreja nem a fidelidade à Santa Sé Apostólica nem a comunhão com ela.  Não sucumbiram à tentação da crise, mas venceram esta provação com a graça de Deus e a fidelidade à Igreja. A diferença está no modo de considerar a crise e a Igreja, sabendo distinguir a sua parte humana da divina, conservando a fidelidade a ela, como critério de verdade e segurança do reto caminho.
As quedas e atitudes disparatadas durante as crises se explicam todas pela falta de espírito de Fé no Espírito Santo que assiste continuamente a Igreja e na própria Igreja, infalível e indefectível, devido a essa assistência divina, que nunca falta.
É dogma de Fé, definido pelo Concílio Ecumênico Vaticano I, que "esta Sé de São Pedro permanece imune de todo erro, segundo a promessa de Nosso Divino Salvador feita ao Príncipe de Seus Apóstolos : "Eu roguei por ti, para que tua Fé não desfaleça; e tu, uma vez convertido, confirma teus irmãos". (Lc 22,32). Esse mesmo Concílio Ecumênico Vaticano I define que " este carisma da verdade e da fé, que nunca falta, foi conferido a Pedro e a seus sucessores nesta cátedra..."

Fonte: Jornal Folha da Manhã do dia 29/09/10

Nenhum comentário:

Postar um comentário