sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Comunhão heróica


Uma pergunta comum que brota espontaneamente naqueles que começam a descobrir o sentido da Liturgia e mergulhar em seu verdadeiro espírito é: "o que fazer quando os abusos litúrgicos são tamanhos e a bagunça tão generalizada que a Santa Missa fica quase que desfigurada e a vontade maior é chorar e sair correndo dali?".

"A única cura para o alquebramento da fé débil é a Comunhão. Apesar de sempre em Si próprio perfeito e complexo e inviolável, o Sagrado Sacramento não opera completamente e de uma vez por todas em qualquer um de nós. Como o ato de Fé, ele deve ser contínuo e cultivado pelo exercício. A frequência é o maior efeito. Sete vezes por semana é mais acalentador do que sete vezes a intervalos. Recomendo também isto como um exercício (infelizmente muito fácil de se encontrar a oportunidade para tal): faça sua comunhão em circunstâncias que afrontem seu gosto. Escolha um padre fanho ou gago ou um frade orgulhoso e vulgar; e uma igreja repleta da usual multidão burguesa, com crianças malcomportadas – daquelas que gritam àqueles produtos de escolas católicas que no momento em que o tabernáculo é aberto recostam-se e bocejam – , jovens sem gravata e sujos, mulheres de calças e frequentemente com o cabelo despenteado e descoberto. Vá à Comunhão com eles (e reze por eles). Será exatamente (ou melhor) como uma missa conduzida por um homem visivelmente santo e compartilhada por algumas pessoas devotas e decorosas. (Não poderia ser pior do que a bagunça da alimentação dos Cinco Mil – após a qual [Nosso] Senhor propôs a alimentação que estava por vir.)"   J. R. R. Tolkien
Já ouvi referirem-se a isto como a "técnica de São João", que consistiria em: como o jovem apóstolo, agarrar-se na barra da saia de Nossa Senhora aos pés da Cruz e chorar de dor pelo descaso com que é tratado Nosso Senhor no Santíssimo Sacramento do Altar... e aguentar. Aguentar, pois o Calvário certamente não foi fácil de suportar, mesmo para aqueles que apenas o presenciaram. Era o momento em que o Salvador e Rei remia o mundo. E era o momento em que o mesmo Salvador e Rei era brutalmente injuriado, seu corpo todo esfacelado sendo entregue por nossos pecados.

Por que isto seria mais heróico e meritório? Faço uma analogia com a água pura e a água suja. Em ambos os casos a água está presente em essência. As impurezas da água barrenta não a tornam menos água, não ferem sua essência. Contudo, nos impedem de enxergar sua pureza e cristalinidade. É o mesmo com a Santa Missa. As impurezas dos abusos litúrgicos não a tornam menos Missa [3]. Mas atrapalham a nós, sensíveis como somos, e nos impedem de enxergar seu brilho e glória.

Poucos são os que conseguem enxergar além da água barrenta e ver sua essência. Poucos também são os que conseguem enxergar além dos abusos litúrgicos. Mas com os olhos da fé podemos nos esforçar por fazê-lo, e é mister que o façamos.

Fonte: www.salvemaliturgia.com

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