“A humildade, dizia São Gaspar, é a
mãe de todas as virtudes”. É o terreno fértil, que permite às sementes
lançar raízes, germinar e chegar à maturação. Sem humildade no coração,
nada nasce. Quando o Filho de Deus, o Sumo Bem, “desceu” ao meio dos
homens para salvá-los, procurou a colaboração de pessoas humildes,
disponíveis, com os pés bem na terra. De maneira especial, dirigiu seu
olhar para um casal jovem, Maria e José, que resplandeciam pela
humildade. Entre os dois, ela cheia de graça, o havia atraído porque
cantava: “Minha alma engrandece o Senhor... que olhou para a pequenez de
sua serva. Ela sabia que o que estava acontecendo não era por
merecimento seu, e sim por dom gratuito de Deus: “Grandes coisas
realizou em mim o Onipotente.”
Maria e José estavam conscientes da
grandiosidade da missão que lhes fora confiada, e juntos, acolheram com
simplicidade e generosidade e protegeram o filho misterioso que com o
poder do amor “derruba os poderosos de seus tronos e eleva os humildes.”
A esses não promete glórias e bens humanos, mas o Reino dos céus, isto
é, o privilégio da intimidade com Deus. Nazaré, a cidadezinha
insignificante de onde não poderia sair nada de bom, é o lugar onde
cresce o filho do carpinteiro, despido de sinais externos
extraordinários. A pequena e simples moradia dessa família excepcional
esconde o segredo de Deus que, para salvar a humanidade, se manifesta em
forma humana e humilhou-se fazendo-se obediente até a morte na cruz.
Por isso Deus o exaltou...” São Gaspar nos propõe uma doutrina profunda
sobre a necessidade fundamental desta disposição de ânimo e exorta-nos a
ambicionar, humildemente, coisas grandiosas, pois para isso Deus nos
chamou. É válida, ainda hoje, a humildade?
A humildade é hoje considerada como
algo degradante e não condizente com a dignidade humana. A mentalidade
hodierna não reconhece a humildade como virtude e menospreza o
“diminuir-se”. Ambiciona os postos de maior prestígio, quer aparecer,
“subir” sempre mais. A palavra “humildade vem do latim “humus” (terra)
e, segundo Santo Isidoro, indica o comportamento espiritual de quem não
se distancia muito da terra, mas se volta para o baixo.
A humilhação injusta
É aquela que se caracteriza pelo
aniquilar alguém com violência e prepotência. Deus castiga os
prepotentes que humilham os semelhantes. “Depôs os poderosos de seus
tronos. ” Isto aconteceu ao rei Nabucodonosor que dizia: “ subirei aos
céus, bem acima das estrelas de Deus;” foi condenado a alimentar-se de
capim, durante sete anos, como um boi. Os nossos primeiros pais, que
quiseram tornar-se semelhantes a Deus, conhecendo o bem e o mal, foram
humilhados por Deus e expulsos do paraíso cobrindo sua nudez com
folhas.
A humilhação voluntária
Pode ser boa ou má. Humilham-se de
maneira má os pecadores, quando desonram a si mesmos e se animalizam.
Davi afirma: “Na prosperidade o homem perde o bem do intelecto, torna-se
igual aos animais que perecem. Ao contrário, humilha-se de maneira boa
quem se abaixa de conformidade com a razão. Consciente das próprias
limitações, o homem não se exalta, mas permanece no seu verdadeiro
lugar, o último. Assim aconteceu com Abraão, ele disse ao Senhor: “Vede
como ouso falar com o meu Senhor, eu que sou pó e cinza.” Esta é
humildade virtuosa, santa e digna de louvor.
A falsa humildade
É importante distinguir bem a
humildade verdadeira, da falsa. A falsa caracteriza-se por atitudes
puramente externas. Santo Agostinho afirma que tal humildade é, na
realidade, uma grande soberba porque tenta, com um comportamento
hipócrita de submissão, alcançar o píncaro da glória. Criados para
grandes coisas São Tomás assim define a humildade verdadeira: é a
virtude que freia e modera as aspirações exageradas do homem. Que o
mundo com sua sabedoria oposta à do Espírito, não venha dizer que a
humildade se opõe à magnanimidade, isto é, ao espírito empreendedor e à
grandeza de coração que se projeta para coisas grandiosas, e que a
humildade, ao contrário, as evita. A humildade e a coragem buscam,
juntas, coisas grandiosas. A humildade acalma os desejos exagerados, a
magnanimidade impulsiona o espírito, de maneira racional, para os
grandes empreendimentos. O homem, na verdade, foi criado para ideais
grandiosos: “Façamos o homem à nossa imagem e semelhança” e é chamado,
de conformidade com a perspectiva de sua vocação, para aspirações ainda
maiores: para a glória de Deus.
No cristianismo, os fiéis são
exortados a conquistar os melhores e maiores bens: “Aspirai aos carismas
melhores”, diz São Paulo. Deus, não só não tem inveja do homem, mas o
auxilia a alcançar essa grandeza e o exorta a não perde-la para não
prejudicar seu projeto. Como essa grandeza é um bem precioso, tem em si
uma força de atração formidável sobre nossas aspirações; o resultado,
chama-se: esperança. Neste bem altíssimo existe, porém, alguma coisa que
amarra o ser humano: é a dificuldade em atingi-lo; esta
dificuldade traz consigo a tentação do
desencorajamento. Por isso, são necessárias, quando se trata de um bem
de tal valor, tanto a humildade quanto a magnanimidade que, unidas com
companheiras e irmãs inseparáveis, nos ajudem. Falsa, portanto, é a
calúnia que o mundo assaca contra a humildade, como se ela inibisse a
coragem e colocasse o medo no coração do homem. Humildade e
magnanimidade não se contrapõem É bem verdade, porém, que buscar as
coisas grandes, confiando só nas próprias capacidades, é contrário à
humildade, é ambição.
Que alguém, confiando no auxílio de
Deus, procure coisas mais elevadas, não é contra a humildade; ao
contrário, justamente por isso será exaltado por Deus, de maneira
especial, aquele que se submete a Ele com humildade: “quem se humilha,
será exaltado.” Santo Agostinho ensina: “uma coisa é elevar-se até Deus,
outra é levantar-se contra Deus, se te prostras diante Dele, Ele te
eleva; se tu te levantas contra Ele, Ele te prostra.” A humildade é
verdadeira Sabeis qual a audácia é inibida pela humildade? A vã, a
vazia, a presunçosa, que se chama soberba, com ela os pecadores buscam a
glória e as grandezas mundanas. A humildade é verdade. Esta impede que
as pessoas se elevem acima de si mesmas ou se abaixe além do que é
conveniente; isto seria degradação e repulsa. A humildade, ao contrário,
coloca a pessoa e a conserva no seu devido lugar, previsto por Deus em
seu projeto. Santo Tomás escreve que a humildade se caracteriza
especialmente pela submissão do homem a Deus, e em vista dele,
submete-se humildemente também a outros homens. Esta é a submissão
prevista no projeto de Deus: à grandeza do ser humano e à ordem
estabelecida, pelo próprio criador, para a natureza.
Pe. Bruno Facciotti, CSS
Fonte: http://luzdavida.org.br/formacao/formacao-humana/4673-humildade
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