quarta-feira, 20 de agosto de 2014

A Humildade

Elevou os humildes
“A humildade, dizia São Gaspar, é a mãe de todas as virtudes”. É o terreno fértil, que permite às sementes lançar raízes, germinar e chegar à maturação. Sem humildade no coração, nada nasce. Quando o Filho de Deus, o Sumo Bem, “desceu” ao meio dos homens para salvá-los, procurou a colaboração de pessoas humildes, disponíveis, com os pés bem na terra. De maneira especial, dirigiu seu olhar para um casal jovem, Maria e José, que resplandeciam pela humildade. Entre os dois, ela cheia de graça, o havia atraído porque cantava: “Minha alma engrandece o Senhor... que olhou para a pequenez de sua serva. Ela sabia que o que estava acontecendo não era por merecimento seu, e sim por dom gratuito de Deus: “Grandes coisas realizou em mim o Onipotente.”
Maria e José estavam conscientes da grandiosidade da missão que lhes fora confiada, e juntos, acolheram com simplicidade e generosidade e protegeram o filho misterioso que com o poder do amor “derruba os poderosos de seus tronos e eleva os humildes.” A esses não promete glórias e bens humanos, mas o Reino dos céus, isto é, o privilégio da intimidade com Deus. Nazaré, a cidadezinha insignificante de onde não poderia sair nada de bom, é o lugar onde cresce o filho do carpinteiro, despido de sinais externos extraordinários. A pequena e simples moradia dessa família excepcional esconde o segredo de Deus que, para salvar a humanidade, se manifesta em forma humana e humilhou-se fazendo-se obediente até a morte na cruz. Por isso Deus o exaltou...” São Gaspar nos propõe uma doutrina profunda sobre a necessidade fundamental desta disposição de ânimo e exorta-nos a ambicionar, humildemente, coisas grandiosas, pois para isso Deus nos chamou. É válida, ainda hoje, a humildade?
A humildade é hoje considerada como algo degradante e não condizente com a dignidade humana. A mentalidade hodierna não reconhece a humildade como virtude e menospreza o “diminuir-se”. Ambiciona os postos de maior prestígio, quer aparecer, “subir” sempre mais. A palavra “humildade vem do latim “humus” (terra) e, segundo Santo Isidoro, indica o comportamento espiritual de quem não se distancia muito da terra, mas se volta para o baixo.  
A humilhação injusta
É aquela que se caracteriza pelo aniquilar alguém com violência e prepotência. Deus castiga os prepotentes que humilham os semelhantes. “Depôs os poderosos de seus tronos. ” Isto aconteceu ao rei Nabucodonosor que dizia: “ subirei aos céus, bem acima das estrelas de Deus;” foi condenado a alimentar-se de capim, durante sete anos, como um boi. Os nossos primeiros pais, que quiseram tornar-se semelhantes a Deus, conhecendo o bem e o mal, foram humilhados por Deus e expulsos do paraíso cobrindo sua nudez com folhas. 
A humilhação voluntária
Pode ser boa ou má. Humilham-se de maneira má os pecadores, quando desonram a si mesmos e se animalizam. Davi afirma: “Na prosperidade o homem perde o bem do intelecto, torna-se igual aos animais que perecem. Ao contrário, humilha-se de maneira boa quem se abaixa de conformidade com a razão. Consciente das próprias limitações, o homem não se exalta,  mas permanece no seu verdadeiro lugar, o último. Assim aconteceu com Abraão, ele disse ao Senhor: “Vede como ouso falar com o meu Senhor, eu que sou pó e cinza.” Esta é humildade virtuosa, santa e digna de louvor. 
A falsa humildade
É importante distinguir bem a humildade verdadeira, da falsa. A falsa caracteriza-se por atitudes puramente  externas. Santo Agostinho afirma que tal humildade é, na realidade, uma grande soberba porque tenta, com um comportamento hipócrita de submissão, alcançar o píncaro da glória. Criados para grandes coisas São Tomás assim define a humildade verdadeira: é a virtude que freia  e modera as aspirações exageradas do homem. Que o mundo com sua sabedoria oposta à do Espírito, não venha dizer que a humildade se opõe à magnanimidade, isto é, ao espírito empreendedor e à grandeza de coração que se projeta para coisas grandiosas, e que a humildade, ao contrário, as evita. A humildade e a coragem buscam, juntas, coisas grandiosas. A humildade acalma os desejos exagerados, a magnanimidade impulsiona o espírito, de maneira racional, para os grandes empreendimentos. O homem, na verdade, foi criado para ideais grandiosos: “Façamos o homem à nossa imagem e semelhança” e é chamado, de conformidade com a perspectiva de sua vocação, para aspirações ainda maiores: para a glória de Deus. 
No cristianismo, os fiéis são exortados a conquistar os melhores e maiores bens: “Aspirai aos carismas melhores”, diz São Paulo. Deus, não só não tem inveja do homem, mas o auxilia a alcançar essa grandeza e o exorta a não perde-la para não prejudicar seu projeto. Como essa grandeza é um bem precioso, tem em si uma força de atração formidável sobre nossas aspirações; o resultado, chama-se: esperança. Neste bem altíssimo existe, porém, alguma coisa que amarra o ser humano: é a dificuldade em atingi-lo; esta
dificuldade traz consigo a tentação do desencorajamento. Por isso, são necessárias, quando se trata de um bem de tal valor, tanto a humildade quanto a magnanimidade que, unidas com companheiras e irmãs inseparáveis, nos ajudem. Falsa, portanto, é a calúnia que o mundo assaca contra a humildade, como se ela inibisse a coragem e colocasse o medo no coração do homem. Humildade e magnanimidade não se contrapõem É bem verdade, porém, que buscar as coisas grandes, confiando só nas próprias capacidades, é contrário à humildade, é ambição.
Que alguém, confiando no auxílio de Deus, procure coisas mais elevadas, não é contra a humildade; ao contrário, justamente por isso será exaltado por Deus, de maneira especial, aquele que se submete a Ele com humildade: “quem se humilha, será exaltado.” Santo Agostinho ensina: “uma coisa é elevar-se até Deus, outra é levantar-se contra Deus, se te prostras diante Dele, Ele te eleva; se tu te levantas contra Ele, Ele te prostra.” A humildade é verdadeira Sabeis qual a audácia é inibida pela humildade? A vã, a vazia, a presunçosa, que se chama soberba, com ela os pecadores buscam a glória e as grandezas mundanas. A humildade é verdade. Esta impede que as pessoas se elevem acima de si mesmas ou se abaixe além do que é conveniente; isto seria degradação e repulsa. A humildade, ao contrário, coloca a pessoa e a conserva no seu devido lugar, previsto por Deus em seu projeto. Santo Tomás escreve que a humildade se caracteriza especialmente pela submissão do homem a Deus, e em vista dele, submete-se humildemente também a outros homens. Esta é a submissão prevista no projeto de Deus: à grandeza do ser humano e à ordem estabelecida, pelo próprio criador, para a natureza.
 Pe. Bruno Facciotti, CSS 
Fonte: http://luzdavida.org.br/formacao/formacao-humana/4673-humildade

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