Homilia do dia 13 de maio , da Santa Missa do Santuário de Fátima:
1. Fatima. Um mistério de amor, de inocência, de santidade.
Faz-nos bem vir a Fátima. Recorda-nos, entre outras
coisas, que quando Deus opera escolhe gente simples, lugares simples,
linguagem simples.
Assim fez no início da Redenção: quando elegeu Maria Santíssima, São José, os Pastores…
Assim fez ao eleger a pobre casa de Nazaré, a manjedoura de Belém… o caminho do desterro.
Assim fez dialogando de forma muito clara e objetiva através do Anjo da Anunciação.
Assim quer que sejamos simples também nós!
Aqui em Fátima, escolheu três crianças muito inocentes: Lúcia, Jacinta e Francisco.
Escolheu uma azinheira num descampado.
Escolheu a linguagem simples de Maria, do Anjo e do próprio Jesus.
Quanto necessitamos ainda da mensagem de Fátima!
Necessitamos que os nossos jovens escutem a voz do
inocente Francisco, que queria cada vez mais amar a Jesus, enxugar-lhe
as suas lágrimas.
Necessitamos que a gente adulta pense e aja como a
pequena Jacinta, esse anjo do Céu, que na sua infância, agiu com a
seriedade de quem entende que a salvação da alma, das nossas almas, é o
assunto principal a que nos devemos dedicar.
Necessitamos que todos, em todas as partes do
mundo, consagrem – cada um segundo a sua vocação específica como fez a
Irmã Lúcia –, toda a sua vida a encarnar e a propagar a mensagem de
Cristo, mensagem de amor e de reconciliação, e os apelos de Maria
Santíssima em Fátima.
São muito atuais os apelos de Maria. E o mundo, em
perigo de perdição, não encontrará paz e graça se não se esforçar por
colocar em prática o que a Virgem Maria pediu aqui.
2. A Virgem de Fátima nasceu na Palestina e desde ali iniciou a sua vida itinerante…
A partir de Nazaré – onde começará a ser a Mãe do
Verbo Encarnado – “A cheia de Deus”, a cheia de graça, vai pressurosa a
Ain Karem para compartilhar essa graça no seu serviço de piedade e
caridade;
Encontramo-la logo em Belém – onde o mundo fiel (os
pastores) e o pagão (os reis magos) contemplarão o fruto do seu ventre
virginal;
Dali, como os milhões de refugiados no Médio
Oriente e em África, se refugiará no Egito, protegendo o Filho das suas
entranhas e crescendo no amor virginal com São José.
Logo, regressa a Nazaré… acompanha o seu filho a Caná – onde antecipa a Hora do Senhor, pedindo-Lhe um milagre.
Vai com o Seu Filho a Cafarnaum…
E acompanhá-Lo-á na sua Via-Sacra… e na sua Sepultura.
E assim fará com o Corpo Místico de seu Filho que é
a Igreja… Ela esteve presente no Cenáculo até à vinda do Pentecostes…
bastava a sua presença para tranquilizar os discípulos…
Ela nunca esteve parada! Sempre acompanhou e acompanha a vida de seus filhos.
Assim, ao longo da história, apareceu no Pilar e em
Guadalupe… assim quis Ela chegar em pessoa aqui, para santificar este
lugar com a sua presença e aparição;
Hoje, seguindo os passos desta amada Mãe peregrina,
venho aqui, a Fátima e trago comigo toda a comunidade cristã de
Jerusalém para me unir a vós na devoção a Nossa Senhora.
É Maria Santíssima quem nos une em Cristo. Ela
fortalece o forte laço que existe entre Fátima em Portugal e Jerusalém
na Terra Santa.
Um santuário leva-nos naturalmente ao outro. Nós,
os da Terra Santa, sentimo-nos atraídos a todos os lugares onde a Mãe de
Deus quer continuar a ajudar a humanidade.
Vós não podeis deixar de pensar nos lugares onde
Maria Santíssima nasceu, viveu, sofreu e foi elevada ao Céu. Convido-vos
a que façais também esta experiência da presença de Maria, peregrinando
à Sua Terra. Espero-vos a todos com muito gosto!
Muitos são os santuários marianos no mundo, mas Ela
é uma só, e Ela nos ensina a procurar a verdadeira unidade na Fé em seu
Filho e na verdadeira Caridade.
Maria não tem problema em apresentar-se com vestes
diversas e com cores de pele diversas. Ela não tem medo de nos falar em
diferentes idiomas.
Olhemos ao nosso redor… viemos de muitas partes. De
diferentes culturas… ninguém se sente estrangeiro junto de Maria… e
todos juntos formamos uma só família, família que ama, família que busca
amor, paz, saúde e serenidade.
Assim é e assim deve ser.
Como diz a Sagrada Escritura: “Vede como é bom e agradável que os irmãos vivam unidos!” (Sl 133,1)
3. Nossa Senhora em Fátima chama-nos à conversão, à mudança de mentalidade e de coração.
E para isso nos chama à confissão dos pecados, a rezar e a sacrificarmo-nos pela salvação de todos.
A mensagem de Fátima é uma mensagem da Virgem Mãe
ao pé da Cruz. Sim! Desde o Gólgota do Seu Filho, e seu também, Ela
chama-nos à conversão. É uma mensagem agridoce, porque por um lado
contemplamos a sua maternidade amorosa que nos enche de consolo, mas por
outro não podemos deixar de contemplar o significado da morte de seu
Filho: o seu Calvário, os seus sofrimentos e os sofrimentos da própria
Virgem… e o motivo de todos esses sofrimentos: a salvação da humanidade,
a nossa salvação.
Se a Virgem quis aparecer aqui e chamar-nos à
conversão, é porque o mundo está em perigo. E não só considerando a sua
dimensão material, mas o seu aspeto principal: os homens e mulheres do
mundo, todos e cada um dos habitantes do planeta terra, estão em perigo
de eterna condenação. Retirai este aspeto da mensagem de Fátima, e a
aparição e a mensagem de Nossa Senhora não terão significado.
Acabámos de terminar as celebraçõess da Semana
Santa. A impressionante súplica de Jesus pregado na Cruz sobre o Gólgota
de Jerusalém repetiu-se também neste lugar santo: “Que fazeis?” –
perguntou o Anjo aos pastorinhos, que estavam a brincar durante a sesta –
“Que fazeis? Orai, orai muito […] De tudo que puderdes, oferecei a Deus
sacrifício em ato de reparação pelos pecados com que Ele é ofendido e
súplica pela conversão dos pecadores”.
Cristo é a nossa paz. Ele adquiriu para nós a paz
com o preço do seu Sangue e das suas súplicas – “foi atendido por causa
da sua humildade” (Heb 5, 7-8).
Em Fátima, o Céu pede-nos também que ofereçamos
sacrifícios e orações pela paz “Atraí, assim, sobre a vossa Pátria a
paz”, disse o Anjo aos Pastorinhos.
E a Virgem Santíssima, logo depois de lhes
perguntar se estavam dispostos a sofrer pela conversão dos pecadores,
pede-lhes: “Rezem o terço todos os dias, para alcançarem a paz para o
mundo e o fim da guerra”.
4. Queridos irmãos. Quanto ódio há
no mundo! Quantos crimes e quanta violência! Quanto sangue se derrama
nos altares imundos dos ídolos!
A quem recorrer? A Cristo – como nos ensinou Maria em Caná: “Fazei o que Ele vos disser!” (Jo 2, 1-11).
Que fazer? Rezar o Rosário todos os dias; confessar-se; oferecer, de tudo o que pudermos, sacrifícios; viver na caridade.
Temos muitos desafios, mas não estamos sós. Cristo
assegurou-nos que estaria connosco “todos os dias até à consumação dos
séculos” (Mt 28, 20) e temo-nos uns aos outros, para nos ajudarmos, para
nos imitarmos no bem, e nos associarmos na difusão dos valores do
Evangelho.
Este ano trabalhar-se-á na Igreja o tema da
família, com vista ao próximo Sínodo dos Bispos no mês de outubro,
convocado pelo Papa Francisco e que tem como tema: “Os desafios da
família”.
Devemos pensar na unidade da família; da família
internacional – composta pelas nações e povos do mundo –; também da
família eclesial – na bela diversidade das suas vocações –, mas, e
sobretudo, pensemos e trabalhemos pela família humana. Por aquela que o
Criador instituiu para que seja base e fundamento da sociedade. A
família baseada no matrimónio indissolúvel entre um homem e uma mulher;
família criada para ser fonte de amor mútuo e generosa fecundidade.
Rezemos pelos frutos do Sínodo e por todas as
famílias do mundo, a fim de que todos possam experimentar o amor de
Deus, que se manifesta no seio dos lares.
Peçamos também por aqueles que, desgraçadamente,
por vários motivos sofrem nas suas realidades familiares. Que não percam
a fé em Deus nem a esperança no divino.
A riqueza da família no Oriente pode servir, em
certo aspeto, de estímulo a muitas graves realidades que se vivem no
Ocidente, demonstrando que não é impossível viver bem a sã vida
familiar:
O amor e os laços familiares que se experienciam
nos lares no Oriente são muito fortes: tanto assim é que os lares da
terceira idade não têm utentes! Porque as famílias não querem deixar os
mais idosos! Famílias numerosas… devoção mariana com um resultado
positivo de muitas vocações sacerdotais.
5. Outro desafio é a paz.
Há muitos problemas no mundo e particularmente no
Médio Oriente: graves problemas políticos – sistemas e governos inteiros
que não conseguem restaurar a continuidade e a serena convivência; os
fanatismos religiosos – mas também de alguns grupos islamitas ou de
alguns grupos de judeus extremistas –; os check-points militares
israelitas, que impedem a livre circulação dos habitantes árabes da
Terra Santa e do mundo árabe para os seus lugares de culto e para os
lugares onde vivem os seus familiares; centenas de milhares de
refugiados – gente que perdeu tudo; casa, veículos, trabalho, terra… a
sua dignidade… –; guerra aqui e ali… e rumores de guerra e greves por
toda a Europa. Que o Senhor misericordioso tenha piedade de nós!
Que fazer? A resposta definitiva a todos estes problemas não a conheço.
Mas sim, sei que podemos rezar pela paz; todos os dias, especialmente na Santa Missa e no Rosário.
Sim! Rezar pela paz e, também, trabalhar pela
justiça e pela dignidade do homem. Porque a justiça é o fundamento
natural da paz. E a paz ou é justa ou não é paz verdadeira.
E se se sacrifica a justiça e a dignidade do homem, em busca de segurança, perdemos as duas coisas: a paz e a segurança.
Na Terra Santa há muitos muros que separam
famílias, paróquias, terrenos; mas piores do que os muros de betão são
os muros do coração do homem: as injustiças arreigadas; o ódio racial e
religioso; a ambição e o egoísmo feito lei; a desconfiança, a força
bruta e a arrogância em toda a parte…
Sim! Os muros do coração são invisíveis, mas são
piores do que os visíveis. E há que trabalhar para que caiam todos esses
muros. E… aqui então… também deveremos voltar à oração; a pedir Àquele
que “derrubou na sua carne” (EF 2,14) a divisão dos homens, que nos dê a
graça de derrubar os muros que nos separam.
Daí que a mensagem de Fátima, de conversão e
oração, seja particularmente eficaz, para colaborar no caminho da paz na
Terra Santa e em todo o Médio Oriente.
É a fé que nos une e o amor de Maria Imaculada.
Hoje deverá ser uma data inesquecível nas nossas
vidas. Uma data que divida em dois a nossa história pessoal: a vida
antes desta peregrinação e a vida depois; a que começa a partir de hoje.
Desejo que regresseis a vossas casas mais jovens e mais alegres, cheios
de fé e de amor pelo Senhor, por sua Mãe e pela sua Igreja.
Patriarca Latino de Jerusalém
† Fouad Twal
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