quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

A revelação e revelações

Por Dom Fernando Arêas Rifan
Bispo da Administração Apostólica Pessoal/São João Maria Vianney

Na sua exortação Apostólica Verbum Domini - A Palavra do Senhor - o Papa Bento XVI, ao ensinar que Jesus Cristo é a palavra única do Pai, recorda o que diz São João da Cruz : "o que Deus  antes disse parcialmente pelos profetas, revelou-o totalmente, dando-nos o Todo que é o seu Filho.  E por isso, quem agora quisesse consultar a Deus ou pedir-lhe alguma visão ou revelação, não só cometeria um disparate, mas faria agravo a Deus, por não pôr os olhos totalmente em Cristo e buscar fora d`Ele outra realidade ou novidade" (São João da Cruz).
    Esse ensinamento é muito importante, hoje de modo especial, porque muitos confudem a revelação pública, feita por Jesus Cristo e transmitida pelos Apóstolos, com revelações particulares, que podem acontecer no decurso da história da Igreja.  O valor, a importância e o papel  delas são diferentes.
    Por isso, o Papa aproveita a ocasião para reportar que o "Sínodo recomendou que ´se ajudassem os fiéis a bem distinguir a Palavra de Deus das revelações privadas´, cujo ´papel não é (...) ´completar´ a Revelação definitiva de Cristo, mas ajudar a vivê-la mais plenamente, numa determinada época histórica´.  O valor das revelações privadas é essencialmente diverso do da única revelação púplica: esta exige a nossa fé.  O critério da verdade de uma revelação privada é a sua orientação para o próprio Cristo.  Quando aquela nos afasta d´Ele, certamente não vem do Espírito Santo, que nos guia no âmbito do Evangelho e não fora dele.  A revelação privada é uma ajuda para a fé".
    " Por isso, a aprovação eclesiástica de uma revelação privada indica essencialmente que a respectiva menssagem não contém nada que contradiga a fé e os bons costumes; é lícito torná-la pública e os fiéis são autorizados a prestar-lhe de forma prudente a sua adesão. Uma revelação privada pode introduzir novas acentuações, fazer surgir novas formas de piedade ou aprofundar antigas.  Pode revestir-se de certo caráter profético (cf. 1 Ts 5,19-21) e ser uma válida ajuda para compreender e viver melhor o Evangelho na hora atual; por isso não se deve desprezá-la".
    É claro que se houver, numa revelação privada, qualquer coisa que contradiga a Revelação Pública, contida na Sagrada Escritura e na Tradição, a nós transmitida pelo Magistério Vivo da Igreja, não poderia merecer nenhum crédito da parte dos católicos nem ser divulgada.
    Assim, a Igreja aprovou, por exemplo, as revelações de Rue de Bac a Santa Catarina Labouré, de Lourdes e de Fátima, não só por não terem nada que contradiga a fé e os bons constumes, mas por acentuarem muitas doutrinas já ensinadas na revelação pública e  fazerem surgir louvavelmente novas formas de piedade.  Essas revelações privadas  forma benéficas à Igreja e às almas, apresentando as características de credibilidade.  Por isso podem e devem ser divulgadas.  Mas não têm a mesma autoridade e obrigatoriedade da Revelação pública.

Fonte: Jornal Folha da Manhã, 02 de fevereiro de 2011.

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