Por Dom Fernando Arêas Rifan
Ainda sob os reflexos do Natal, refletimos em todas as lições desse maior acontecimento da história da humanidade, razão de nossa esperança e causa de nossa alegria: " O próprio Filho de Deus veio em carne semelhante à do pecado" (Rm 8,3) para condenar o pecado e, após tê-lo condenado, excluí-lo completamente do gênero humano. Chamou o homem à semelhança consigo mesmo, fez dele imitador de Deus, colocou-o no caminho indicado pelo Pai, para que ele pudesse ver Deus e o oferecesse em dom ao próprio Pai" (S.Irineu).
O Natal é a primeira festa litúrgica, o recomeçar do ano religioso, como a nos ensinar que tudo recomeçou ali. O nascimento de Jesus foi o princípio da revelação do grande mistério da Redenção que começava a se realizar e já tinha começado na concepção virginal de Jesus, o novo Adão. Deus queria que o seu projeto para a humanidade fosse reformulado num novo Adão, já que o primeiro Adão havia falhado por não querer se submeter ao seu Senhor, desejando ser o senhor de si mesmo e juiz do bem e do mal. Assim, Deus enviou ao mundo o seu próprio Filho, o Verbo eterno, por quem e com quem havia criado todas as coisas. Esse Verbo se fez carne, incarnou-se no puríssimo seio da Virgem, por obra do Espírito Santo, e começou a seu um de nós, nosso irmão, Jesus. Veio ensinar ao homem como ser servo de Deus. Por isso, sendo Deus, fez-se em tudo semelhante a nós, para que tivéssemos um modelo bem próximo de nós e ao nosso alcance.
Como disse o Papa Bento XVI na sua última audiência, estamos diante do "lugar onde tudo começou por nós e para a nossa salvação, onde tudo encontrou seu cumprimento, onde se encontraram e se cruzaram as esperanças do mundo e do coração humano com a presença de Deus". Saboreamos a alegria ao ver essa luz " que da gruta de Belém, começa a se espalhar por todo o mundo". "Voltamos a encontrar esta disposição do coração e a tornamos nossa, naqueles que em primeiro lugar acolheram a vinda do Messias: Zacarias e Isabel, os pastores, as pessoas simples e , especialmente, Maria e José, que experimentaram em primeira pessoa o tremor, mas, sobretudo, a alegria pelo mistério deste nascimento....Temos de nos acostumar a perceber Deus. Deus é normalmente afastado das nossas vidas, das nossas idéias, do nosso agir. Ele veio a nós e temos de nos acostumar a estar com Deus. E,de forma audaz, S.Irineu se atreve a dizerque Deus também tem de se acostumar a estar conosco e em nós. E que Deus talvez devesse nos acompanhar no Natal, acostumar-nos com Ele, assim como Deus tem de se acostumar conosco, com nossa pobreza e fragilidade. A vinda do Senhor, portanto, não pode ter outro propósito além de ensinar-nos a ver e a amar os acontecimentos, o mundo e tudo que nos rodeia, com o mesmo olhar de Deus. O Verbo que se fez Menino nos ajuda a compreender como Deus age, para que sejamos capazes de deixar-nos transformar cada vez mais pela sua bondade e pela sua infinita misericórdia". Desse modo, " o homem, que não pode ver Deus, pode ver Jesus. E assim, vê Deus, assim começa a ver a verdade, assim começa a viver".
Fonte: Folha da Manhã, 29 de dezembro de 2010.
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