sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Reflexos do Natal


Por Dom Fernando Arêas Rifan

Ainda sob os reflexos do Natal, refletimos em todas as lições desse maior acontecimento da história da humanidade, razão de nossa esperança e causa de nossa alegria: " O próprio Filho de Deus veio em carne semelhante à do pecado" (Rm 8,3) para condenar o pecado e, após tê-lo condenado, excluí-lo completamente do gênero humano.   Chamou o homem à semelhança consigo mesmo, fez dele imitador de Deus, colocou-o no caminho indicado pelo Pai, para que ele pudesse ver Deus e o oferecesse em dom ao próprio Pai" (S.Irineu).

O Natal é a primeira festa litúrgica, o recomeçar do ano religioso, como a nos ensinar que tudo recomeçou ali.  O nascimento de Jesus foi o princípio da revelação do grande mistério da Redenção que começava a se realizar e já tinha começado na concepção virginal de Jesus, o novo Adão.  Deus queria que o seu projeto para a humanidade fosse reformulado num novo Adão, já que o primeiro Adão havia falhado por não querer se submeter ao seu Senhor, desejando ser o senhor de si mesmo e juiz do bem e do mal.  Assim, Deus enviou ao mundo o seu próprio Filho, o Verbo eterno, por quem e com quem havia criado todas as coisas.  Esse Verbo se fez carne, incarnou-se no  puríssimo seio da Virgem, por obra do Espírito Santo, e começou a seu um de nós, nosso irmão, Jesus.  Veio ensinar ao homem como ser servo de Deus.  Por isso, sendo Deus, fez-se em tudo semelhante a nós, para que tivéssemos um modelo bem próximo de nós e ao nosso alcance.

Como disse o Papa Bento XVI na sua última audiência, estamos diante do "lugar onde tudo começou por nós e para a nossa salvação, onde tudo encontrou seu cumprimento, onde se encontraram e se cruzaram as esperanças do mundo e do coração humano com a presença de Deus". Saboreamos a alegria ao ver essa luz " que da gruta de Belém, começa a se espalhar por todo o mundo".  "Voltamos a encontrar esta disposição do coração e a tornamos nossa, naqueles que em primeiro lugar acolheram a vinda do Messias: Zacarias e Isabel, os pastores, as pessoas simples e , especialmente, Maria e José, que experimentaram em primeira pessoa o tremor, mas, sobretudo, a alegria pelo mistério deste nascimento....Temos de nos acostumar a perceber Deus.  Deus é normalmente afastado das nossas vidas, das nossas idéias, do nosso agir.  Ele veio a nós e temos de nos acostumar a estar com Deus.  E,de forma audaz, S.Irineu se atreve a dizerque Deus também tem de se acostumar a estar conosco e em nós. E que Deus talvez devesse nos acompanhar no Natal, acostumar-nos com Ele, assim como Deus tem de se acostumar conosco, com nossa pobreza e fragilidade.  A vinda do Senhor, portanto, não pode ter outro propósito além de ensinar-nos a ver e a amar os acontecimentos, o mundo e tudo que nos rodeia, com o mesmo olhar de Deus.  O Verbo que se fez Menino nos ajuda a compreender como Deus age, para que sejamos capazes de deixar-nos transformar cada vez mais pela sua bondade e pela sua infinita misericórdia". Desse modo, " o homem, que não pode ver Deus, pode ver Jesus.  E assim, vê Deus, assim começa a ver a verdade, assim começa a viver".

Fonte: Folha da Manhã, 29 de dezembro de 2010.

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